Orações


A ORAÇÃO PESSOAL

Para muitos cristãos a oração não passa de uma idéia interessante, porque as poucas vezes em que tentam rezar se aborrecem, sentem um peso terrível, não sabem o que fazer, se distraem constantemente, e passados cinco minutos já estão fazendo outra coisa.

A oração é encontro íntimo com Deus, aventura maravilhosa. Porém, convém recordar que a oração sempre exige entrega pessoal. Ë necessário parar. Tirar o pé do acelerador, renunciar às coisas que fazemos habitualmente, projetos, e parar, sossegar, ficar quietos um bom tempo.

O primeiro passo é aceitar que terei que me sentar ou ajoelhar por um tempo, e permanecer aí, embora comece a sentir mal- estar em todo o corpo. Pois, como sempre experimentamos e sabemos que com o passar dos dias cria-se o hábito e pouco a pouco essa parada se transforma num “repousar em Deus’. Porém, sempre supõe renúncia e algum esforço, porque o nosso interior é inquieto e nunca se pacifica totalmente nesta vida. Requer um tempo determinado que a pessoa deve dedicar somente a Deus, pois ele, que nos criou e nos salvou, o merece.

A graça de Deus fará com que nesse tempo, Deus possa encontrar-se com meu coração turvado pelos mais variados estados de ânimo. Por isso muitas vezes quando vamos orar podemos nos aborrecer, pois o que está dentro de nós, vem à tona e isso perturba. A oração pode causa um certo incômodo conosco mesmo e ai se faz necessário a reconciliação.

Outras vezes nos enfadamos com Deus, pois achamos que ele deveria fazer o que pedimos e não faz, e por isso depois devemos nos avaliar e fazer as pazes conosco e com Ele; podemos até nos tornar indiferentes para com Deus e pouco a pouco deixar-nos seduzir pelo seu amor e sua imensidade, bem como podemos entrar em conflito com os outros e perdoá-los, descobrir algo novo de Deus ou redescobrir algo que tínhamos esquecido, e gozar; recordar dores do passado e reconcialiar-nos com esta história sofrida, angustiar-nos pelo futuro e encontrar uma nova luz; alcançar a harmonia com Deus, com as pessoas,com o universo, conosco mesmo; e, às vezes, experimentar um tempo de quietude que pode parecer inútil, mas que misteriosamente nos deixa transformados.

Um cristão que não reza provavelmente perde pouco a pouco a fé, porque confia demais em si mesmo, e pretende levar sozinho o peso de sua vida e de sua atividade, O apostolado se transforma numa maneira de se buscar a si mesmo, e por isso busca sua fama, tem necessidade de impor seus pontos de vista, anseia por elogios, que as pessoas se apeguem a ele, crê que tudo depende dele, e acaba ocupando o lugar de Deus. Quando chega a provação, não resiste; e se permanece na comunidade, se torna insatisfeito suportável que amarga o coração dos demais com seu pessimismo.

O cristão que não reza mostra que contempla pouco o amor de Deus. Porque quando se descobre o amor de Deus, sente-se a necessidade de ficar com ele. Quem não reza esquece que todo o seu ser depende de Deus e que tudo o que possui o deve a Deus. Pois quando se experimenta que o próprio tempo é um presente gratuito de Deus, sente-se a necessidade imperiosa de dedicar à oração todo o tempo possível.

Quando não rezo esqueço que também meu futuro, meus êxitos e minha felicidade dependem de Deus, e coloco alicerces muito fracos para o futuro de minha vida.

Quando não rezo, creio que sou importante, que tudo é meu, que tudo é para mim, e termino exigindo dos outros que girem ao redor de mim, que vivam para mim e dependam de mim. E visto ser impossível conseguir esse bjetivo, a amargura, a tristeza, a negatividade vão tomando conta sempre mais de mim.

Se não rezo, aos poucos deixo de experimentar a ternura e a força de Deus, e assim meus vazios interiores e minhas insatisfações se tomam cada vez maiores, porque o homem nunca se satisfaz com as coisas deste mundo, nem com os outros seres humanos. Somente se realiza em Deus.

Os grandes homens da história não foram superficiais, mas chegaram às profundidades de sua vida. Conseguiram isso também porque buscaram o silêncio, e ai se encontraram consigo mesmos e com a imensidão de Deus. Entraram em outra dimensão porque souberam parar, procuraram a tranqüilidade para alcançar a profundidade, e isto os tomou fecundos, ricos, livres.

Porém a profundidade se alcança sobretudo quando se encontra a Deus. Por isso, unir-se a Deus é a plenitude do homem. Unir-se a Deus é alcançar o nível mais alto, mais profundo, mais pleno, mais vital, mais intenso da existência humana. Buscar a Deus na oração é aprender a ser homem.

Queremos destacar que falamos da oração pessoal, da oração solitária” na qual eu me encontro a sós diante de Deus. A oração comunitária, as reuniões de oração, não me dispensam da oração solitária, em segredo”:

‘Ao contrário, quando rezares, entre no teu quarto, fecha a porta, e reza a teu Pai ocultarnente; e teu Pai, que vê o escondido, te recompensará” (Mt 6,6).

Por isso, talvez, devemos chamar de oração “solitária’, para distingui-la da oração comunitária. Chamá-la “oração pessoal’ nos induz a pensar erroneamente que a oração comunitária não é algo pessoal, como se no grupo perdêssemos nossa personalidade e não nos dirigíssemos “pessoalmente” a Deus.

A oração solitária enriquece a oração comunitária, porque à medida que intensifica minha relação pessoal com Deus torna a oração grupal cada vez mais minha, mais espontânea, mais sincera. Sem oração solitária acontece freqüentemente que a oração grupal se transforma numa conversa entre pessoas, buscando palavras que impressionem bem aos outros, e esquecemos que estamos nos dirigindo a Deus.

Também acontece que a oração comunitária se torna monótona, repetitiva, superficial, porque não há uma oração solitária que renove e enriqueça os membros do grupo. Logo, devemos reconhecer que a oração pessoal beneficia-se e muito com a oração grupal, por dois motivos: porque o grupo me pode ajudar a libertar-me mais na oração de louvor e porque exige que me abra à oração de outros, que naturalmente contribuirão para meu enriquecimento espiritual. Porém isto eu só consigo se estiver “treinado” em me relacionar com Deus, em elevar o coração para a união com ele, e isto se aprende especialmente na oração solitária.

Quando temos vida de oração pessoal passamos a gostar muito mais da missa, das orações litúrgicas, porque nos tornamos capazes de ficar um tempo a sós com Deus no silêncio do coração.

Irmãos, para orar, se faz necessário uma decisão de teu interior. A oração começa a ser algo teu quando aceitas de verdade que seja algo teu, que seja algo importante para a tua vida, que seja uma característica de tua pessoa. Quanto mais brotar de tua liberdade, mais profunda será tua oração, porque Deus quis precisar de teu “sim” para encontrar-se com tua intimidade.

E não esquecer que a oração é obra da graça de Deus; é uma realidade sobrenatural, e por isso depende mais da ação do Espírito Santo do que de tua vontade. Por isso, o mais importante que pode fazer tua liberdade é confiar na graça de Deus, invocar a graça de Deus para que possas encontrar-te com Deus, clamar ao Espírito Santo para que te leve a orar.

(adaptação de texto do livro: 40 formas de oração pessoal . Victor Manuel Fernández Ed.Paulus)